Cada vez que meu coração pulsa parte dele já sabe que é seu, por mais que eu e meu ego tentemos negar. Estranha e decadente paixão essa que surge sob as adagas e a ferrugem do coração morto da escritora temerosa que se vendeu ao destino e agora ele se tornou o mestre da mesa, todas as apostas e então em um piscar de olhos fui a falência, e dela não saí. Então o que alguém tão inerte como eu tem a oferecer aos corações do mundo? Coração pobre, negro, magro, velho e nos últimos suspiros. Mas você pode deitar no meu colo, e quando eu te perguntar 'como você está' que você me responda de coração enquanto eu fito os seus olhos e seguro a sua mão. Eu posso ser confortável se você souber como se deitar sobre uma manjedoura de espinhos. Eu posso ser adorável, posso ser amável. Tiro minhas máscaras por você, deixo o pano cair, a cortina do teatro despencar e você poderá ver o backstage da minha alma. Se você desejar pode conviver em carne com meus personagens, olhando nos meus olhos e discernindo neles as pequenas partes de mim, as grandes tintas emboloradas de um todo, as grandes pechas desparelhadas de perca de auto estima. Dividimos um vinho, até dois, ouvimos uns acústicos do David Gilmour, Alice in Chains, e fazemos amor com o The Division Bell. Te veria adormecer, fazendo desenhos de galhos de árvores nas suas costas geladas pelo vento com a ponta dos dedos e ficaria velando seu sono com medo de fechar meus próprios olhos, com medo de acordar do sonho. Leria James Joyce em voz alta para você ou um trecho do Bhagavad Gita ou te contaria as histórias de Mitologia Grega deitados na grama no meio da madrugada, te mostrando as constelações. Das mil coisas que faria contigo a maior delas seria simplesmente observá-lo. Minha vida carece de obras primas para admirar e enigmas para desembaraçar. Fique quieto ou mova-se, fique calado ou sorria, fique bem ou desmaie, eu estarei lá. Enquanto suas pálpebras mantiverem-se firmes e quando não, ainda estarei lá.
Sempre.
Could blow this soul right through the roof of the night.
