quinta-feira, 31 de maio de 2012

Learning to Fly

As correntes da minha alma pertencem somente a mim. Não, sociedade, não venha pra cima de mim com suas promessas inúteis de uma vida inútil a qual você julga perfeita. A quantos ventos ainda terei que bradar que NÃO, eu não aceito suas algemas. O único ser aqui que pode me domar sou eu mesma, então não ouse me olhar com esses grandes olhos corporativos e capitalistas ansiando minhas tripas esparramadas no tapete, NÃO eu sou livre para causar o meu próprio sofrimento. O mundo não pode causá-lo em mim, pois não há nada lá fora pior do que eu, pior que meus sentimentos silenciados nos lençois freáticos de veneno da minha alma. O que pensaram em fazer comigo de ruim eu já fiz, então tragam todas facas e não se cansem de testá-las em mim. Quem se engana aqui, humano? Sua mediocridade ou a minha ainda maior? Você tem o direito e o dever de negar sua decadência até sua morte, eu não. Se um dia eu quiser ser alguém in fact terei que escalar de cicatriz em cicatriz nos pulsos até cair na cova que já tenho cavada aqui no quintal dos sonhos sepultados.
Os remédios, o café e o vinho me deixam mais doente e aumentam as letras do meu obituário. Meu monólogo de tristeza ecoa vazio e egoísta nos cantos da fortaleza éterea de graxa e sangue escorrido da minha alma, sempre foi assim, o que tenho eu para reclamar?


E que indócil conjunto de palavras sem sentido. Eu corto meus pulsos com as cordas do violão e do contrabaixo, já que a navalha não fuciona mais.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Idomeneo, ato II: Cena 3. Ária. Fuor Del Mar (Idomeneo)

Tem um Kundera me olhando torto aqui em cima da minha mesa, um café que esfriou na xícara de São Fransico de Assis e um Mozart soando baixo. Ah essa minha misantropia voltou, triste e molhada como um cachorrinho que ficou do lado de fora da casa por ter mordido a pantufa da dona, ou será que de mim ela nunca saiu? Com ela veio aquele eterno ódio silencioso e a manta fria da indiferença, voltaram a regar o meu jardim de heras venenosas e mortas que cultivo aqui no peito. A cortina de fumaça que me separava dos meus monstirnhos se dissipou, e agora eles adoravelmente vieram me abraçar com seus bracinhos cheios de espinhos. Pequeninos, sanguinários e feios, como a dona, afinal eu os pari e eles são minha imagem e semelhança criador x criatura. Mas o que é um escritor sem sua decadência?
― Venha aqui, Desilusão, tire a sua capa e divida esse Bourbon comigo. Temos muito a conversar.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

A morte vem vagarosa nos corações feridos

"Há, em todos lugares e em todos os peitos um vazio, porém não são todos que o sentem. Muitos caminham rumo seus fins sem senti-los jamais, outros buscam meios diversos para exauri-lo, enquanto outros simplesmente recusam o dom da vida. Quais dessas formas são as mais viáveis rumo a cura do mal dos homens? Mal esse que nos atormenta há milênios, já estamos cheios de tanto remédio para depressão, de tantos livros grandes, de tantas músicas, de tanto álcool e de tanto falso gozo à venda. As pessoas lhe venderão mil coisas: seus corpos, seus prazeres, um pouco de sua atenção, um pouco de tudo o que for comerciável e o que não for. Mas há uma coisa a qual recusam em dar, vender ou leiloar: o amor. Dentro dele engloba-se tantas coisas, tantas qualidades e tantas justificativas ou desculpas, mas um único e verídico fato: o mundo não vai comercializá-lo para você. Venderão-lhe prazeres de carne e serotoninas engarrafadas, morangos e framboesas encaixotadas e história e tempo em livros. Os homens comerzializam até suas próprias mães e filhos, mas não o amor; Ah, esse maldito, então diga-me onde posso comprá-lo.
Tempos passam, rugas aparecem, cicatrizes são tampadas e continuamos na eterna busca por algo que nos seja recíproco, que de fato encha esse buraco de existência vazia que aos poucos vamos nos tornando. São tantos meios que nos afastam com a desculpa que estão nos aproximando que a cada dia ficamos mais doentes e ranzinzas. O mundo perdeu a beleza da convivência e da surpresa, e quanto mais nos afastamos de nos mesmos, mais notas desaparecem do réquiem de nossas vidas, até que existirá apenas o vento, e o silêncio do som não expressado, do beijo nao dado, do sorriso escondido, da lágrima que nunca desceu. Nós morremos a cada dia na cova que nossos próprios dedos cavam numa terra úmida de desilusão..."

Angel - put sad wings around me now
Protect me from this world of sin
So that we can rise again
Judas Priest - Angel