quarta-feira, 10 de julho de 2013

Primeiro ensaio sobre a solidão.


Existe algo de muito denso e complexo no conjunto de sentidos que formam a palavra solidão. Ela não é tão draconianamente maldosa e melosa quanto poetizam ao longo dos anos, é algo mais palpável, aceitável. Aquele gosto amargo depois do último gole de café numa manhã gelada, olha-se para um lado e para o outro para perceber que aquele café é só. Melancolia matinal. Tomar um banho quente e não querer sair do aconchego dele antes de dormir, conforto noturno, para abraçar as cobertas – fazendo calor ou não – e se entregar nelas como dois amantes nus.
Não, não é assim tão sufocante ser sozinho. Porém, existe a diferença entre ser sozinho e estar sozinho. O ser sozinho encontra-se numa personalidade acostumada ao abandono – seja por sua parte ou por parte de outros – enquanto que o estar sozinho vê-se, naquele momento, ficar sozinho; considerando que antes de ser deixado ou deixar, estava acompanhado, estava unido e agora se contempla só.
Qual linha separa os dois extremos do ser e estar? O nascimento? Morar em outro país? Morrer?
Eis que, na posição de pensador, reflito sobre tudo isso, sobre todos estes mistérios, acompanhado do amor ou da cerveja. Não é preciso estar gripado para saber como é um nariz entupido, mas é preciso estar gripado para saber se limpar daquele catarro. In other words, não precisa ser sozinho para saber como é estar sozinho, porém é necessário estar sozinho para saber como é ser sozinho. A transição do estar para ser é mais dolorosa, pois é mais difícil de contentar e adaptar àquela solidão até então desconhecida. Mesmo que tenhamos, em DNA histórico, a contestação da solidão é preciso adaptar-se como a natureza antro e filosófica do ser nos ensinou a descobrir e se moldar as outras coisas.
Sobre a felicidade
Como pode a felicidade comungar-se da solidão? Partindo dela ou sendo-a? Como pode ser feliz?
Não sou ninguém para dissertar sobre a felicidade com um olhar acadêmico-profissional--dissertativo-sucesso, até porque não tenho formação acadêmica nenhuma. Porém posso, como uma escritora, tentar descrevê-la.
Sobre todos os mistérios que envolvem a felicidade o que é comprovado – por esta ilustríssima pessoa: eu – é que ela existe desde que não seja apoiada no outro. “A felicidade só é completa quando compartilhada.” Será, Aristóteles? Nas minhas vistas turvas o ser feliz não depende – inteiramente – em ter/ser a companhia de alguém. Claro que, acompanhado, vemo-nos mais completos, alegres, risonhos e confortáveis. Porém essa alegria já estava guardada, de um modo ou de outro, em você, em si. Estar ali na companhia do outro apenas aguçou a felicidade, excitou, faiscou o animal que residia aí. Talvez estivesse parada, com teias de aranha por falta de estímulo, mas aí estava, aí nasceu: seu íntimo.
É complexo, é tenso falar sobre o ser feliz, mas creio que ainda reservarei muito do meu tempo e palavras dissecando melhor esse conceito. Uma coisa é certa, ela não depende que tenha outro ali, ser feliz e estar feliz é a natureza humana. Se alguém, de algum modo discorda é porque ainda não compreendeu, não engoliu a satisfação de alegrar-se só, necessita de um sopro humano no coração.
Macro de uma evolução, essas dissertações serão continuas para a sanidade mental e verbal daquele que vos fala, vos redige e vos explica como vê o mundo e como aceita a felicidade. Muitos ensaios surgirão, não sendo ensaios, não tendo sentido, só para eclodir o monstro quieto e calado que se tornou o potencial literário do escritor aqui que é um alter-ego masculino. Sento-me só, sinto-me bem – pela primeira vez – acolhido na própria felicidade que busco manter, mantendo a busca.