quarta-feira, 25 de julho de 2012

Windowpane

E procuro por você em cada face que olho, em cada lábio que beijo, em cada mão que aperto, em cada corpo que pressiono, em cada imagem com que me iludo, em cada conversa que finjo, em cada abraço que recebo, em cada olhar que me atrai, em cada toque que recebo, em cada pedra em que piso, em cada parede que construo, em cada sorriso que me vem sem motivo, em cada canção que cantarolo, em cada palavra que vomito, em cada rabisco que disfaço, em cada mágica que me inebria, em cada gole de whisky que me seduz, em cada noite em que não durmo, em cada futuro que almejo, em cada lugar que entro, em cada centro que me afasto, em cada linha que cambaleio, em cada conjugação que tento, em cada corte que me faço, em cada veneno que bebo, em cada desejo que reprimo, em cada rua em que vago, em cada livro que devoro, em cada repetição que evito, em cada mentira que evito, em cada tristeza que me apraz, em cada soluço que me surge, em cada sentimento que me aflinge, em cada dor que me açoita, em cada tropeço onde me esborracho, em cada tudo que não possuo, em cada distância que me atrapalha, em cada ensejo que me dilascera.

Tudo

Dê-me livros, dê-me músicas, dê-me filosofias baratas, dê-me um vinho gelado, dê-me abraços apertados o suficiente para me sufocar, dê-me um cd de Mozart, dê-me...

terça-feira, 24 de julho de 2012

Lençóis rasgados.

Sozinha, doente, dolorída, distraída, a escritora senta-se no chão e ali cai lentamente, até bater a testa contra o piso gelado. O frio foi o beijo denso que a acolheu com mais calor que qualquer outro humano que se aproximara, e a solidão, a velha amiga, jogava poker apostando sua alma jogada as traças, que já não valia de mais nada. Os sentidos de uma esperança que o mundo tentou impor em suas convicções agora ardia como uma bola de pelos na sua garganta, teimando em sair ou não, até sufocá-la e fazê-la cuspir logo essa desgraça de imaginação de futuros dias melhores. E o maldito complexo hiperbólico de terceira pessoa consome sua infétil mente, escravizando seus sentimentos e defecando palavras inúteis, de vida inútil em um lugar inútil. A utilidade, o dever, o desejo afastam-se cada vez mais, e suas perspectivas dançam mais que as pedrinhas de um caleidoscópio quebrado. Pouco lhe cabe, agora ou antes, viver. Ou no futuro, ou na dimensão que suas unhas rasgarem na atmosfera. Como um homem sufocado tenta rasgar a sacola em sua cabeça, ela usa as garras contra a sacola de plástico dessa dimensão real tão degradante e enjoativa, e ali também rasga os prórpios cacos de alma e tenta soprá-los para as mínimas frestas de vida que existem em alguma outra dimensão, algum outro lugar. Mas os fragmentos se perdem no nada, no vácuo pleno, onde ficam pairando para sempre, frios e superficiais, como são seus próprios sentimentos. Retalhos de lençol manchado, rasgados com violência e arremessados janela a fora.
Inútil.