domingo, 19 de agosto de 2012

Se desligo é porque não quero que me ouça chorar.

Seja na minha reza, no meu grito, teu nome ecoa. Aqui, o buraco de pulso arde em sal e fel, no próprio azedume que tu deixaste. A vida mostra-se sempre menos vida. O sol mostra-se menos sol, e o crepúsculo foge de mim, a lua não mais me sorri. O refúgio é sempre a loucura, gelada como a madrugada que habita. Nas entranhas deste mausoléu de codinome 'eu'. Se renego é porque quero que insista, que insisto porque no fundo sou só mais uma. Só mais aquela no banco da praça, lendo um Joyce e o Bukowski que lhe aprouver. Os livros sempre fedem a vidas e mãos passadas, junto com as gotas de vinho branco que caem sem querer, e a marca do batom que se desfaz. Meu esteriótipo é tão morto quanto o teu, tão inútil quanto o teu. O brilho dos meus olhos é um opaco apelo de socorro que ergue-se sem que seja da minha vontade, só da natureza que me castiga. Daqueles tempos onde sentido ainda habitava em meus lábios, tu gostavas de mim. Daquelas palavras que te sussurrava e as músicas que te amava. Mas hoje me desliga, me fecha e me poe na estante pra nunca mais voltar. Faz como os quaisquer, como os muitos que ali passaram, dos poucos que já me fez muito. Então vá. Então foi. Há dois anos me lamento, e há que mais três respiro. Tu voaste como os dias, esverdeaste como o musgo das minhas lembranças, azedaste meu leite e vinagraste meu álcool. Ah, quem ainda Shiva me permitisse te destruir. Só que ainda perambulas, torto e obtuso, amando outras vidas, beijando outros corpos com o teu. Levou meu travesseiro contigo e o meu cobertor, me fazendo voltar ao relento. Ao relento de minha garganta seca. Levaste a vodka, o meu Tullamore Dew. Levaste minhas pedras, minha velas. Levaste-me, levas-me, levar-me-ei.