segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Nothing but this carnival of rust.

O que dói mais é a materialização da falsidade constrita. Em todos os lugares, ninguém escapa. Todas as faces que julguei amigas no fim são inimigas. A máscara da diplomacia só aumenta e se espessa, me distanciando de tudo e todos, me ajudando a ver quem merece valor, e voltando aquele restinho de humanidade apenas para eles. Valso naquele castelo feito de pedras frias, no salão da angústia, em passos mortais, em sinfonias letais. Não é Beethoven, não é Handel. É o meu passado que rege a música. Os meus erros, as más escolhas, a ingenuidade, a falta de presença. É ter amado demais. Imagine uma ferida. Vermelha, onde o sangue desce em forma de rio. Agora imagine que alguém colocou uma gaze ali, e com o tempo foi sarando........ Sim. Agora imagine que depois que a gaze foi retirada, a ferida voltou, afundou, impregnou e avançou por todo meu corpo. Infeccionada, fedida, apodrecendo aos poucos, onde o sangue é negro. Negro como graxa. Não foi a gaze que tinha veneno, era meu amor. Minha paixão intensa. A gaze, por si, ficou definhando, jogada, esperando a morte que vem rápida demais, mas que ainda sim aproveita como se nunca tivesse tocado aquelas feridas. É indiferente? É humano, típico dos humanos. E as feridas apenas rezavam para que alguém desse um remédio para se curarem, antes que fosse tarde demais.

Não há razões para um suicida


Se tivesse, não o seria. Já que o passado agora não vale nada, o presente desagrada e o futuro não é promissor, não razões. Mesmo se tivesse, ninguém colocaria flores no túmulo, ficara lá, lascado e apodrecendo, até que um dia os restos mortais seriam removidos para o lixo e o buraco preenchido por alguém mais amado do que eu. Corpos de falsidade e faces descoloridas de semi-polidez me enjooam A fome de vida atrofia-se mais e mais, uma imensa vala de desilusão e desprazer. Depois de descer o punhal é que pensa-se nas conseqüências. Quantos mais dardos eu errei? E quantas chances mais ainda me restam? Riscando essa lista imaginária a frente de meus olhos, vejo que a tinta é permanente, e que não há como voltar atrás e corrigir os erros terríveis e fatais que me assombrarão para sempre. Os artistas sofrem mais porque sentem mais, como já dizia uma condessa muito sábia. Sentir mais. O que é isso? O ódio astuto e indiferença austera que sinto por tudo? Sorte seria se fosse.
Não tem muito o que se fazer no mar do vácuo eterno de alma descolorida. Sentar e observar, voltar à alcova de desejos silenciosos e corpos esperando belo abate. Sentada no divã, na caixa de vidro, com o vinho na mão e esperando o próximo desafio que no final me fará mal como todos os outros.
Mas o mal habita em mim. Que vem aos arautos, o Coração de Inverno já terminou a primeira taça.