quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Você não mata a dor, ela mata você

As perspectivas adoeceram.Aquelas dores aumentaram e voltaram. Há meses me tornei incapaz de escrever, a coisa que mais prezo, a única que me dá vontade de seguir descalça pelos espinhos de uma vida sem futuro, meu único amor. Destruído, por mim.
Não tenho mais nenhuma das vontades que antes tinha, nem mais de mentir, nem mais de respirar. Acomodei na inércia da caneta pousada no papel liso, no conforto da burrice, dos livros inacabados. Minhas aulas não rendem, minhas músicas não são terminadas, as pessoas são tão legíveis que já me enojam mais do que antes. Não posso mais ouvir música alta, abraçar porque me deu vontade, beijar a testa de alguém, ter longas conversas na companhia da noite. Atrofiei-me. Morri para ressuscitar, mas ao ver que o mundo continua uma merda, voltei zumbizada para o túmulo. Aqui, com meus vermes e ratazanas, a vida é mais bonita. À sete pés, encaixotada na minha claustrofobia, deliciando das maravilhas do mundo enquanto os vermes se banqueteiam em minha carne. Voltar ao alento da mãe terra, de onde nunca deveria ter brotado me faz melhor do que ter que andar sobre ela. Adiei-me, mas não adiantou. Tentei abandonar o teor da palavra escrita, da música bem feita, do filme arrasador para ter um break out na dor por uns segundos, por uns meses, mas o que ganhei?
Troféus de desgosto.
Não existe a mínima possibilidade de se soltar das garras da luz do pensamento cognoscível, ainda mais essa ébria filósofa de palavras tufeis, de robe aberto e de livros manchados de café. Ser um filósofo é ser infeliz, como já diziam. Então filósofo, músico, escritor, literato...
Francamente, meu caixão estofado de desencanto em veludo é mais gostoso. E que milagre é esse de um sorriso? Ah sim, câmeras. Fake it, live it, die it.

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