segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Não há razões para um suicida


Se tivesse, não o seria. Já que o passado agora não vale nada, o presente desagrada e o futuro não é promissor, não razões. Mesmo se tivesse, ninguém colocaria flores no túmulo, ficara lá, lascado e apodrecendo, até que um dia os restos mortais seriam removidos para o lixo e o buraco preenchido por alguém mais amado do que eu. Corpos de falsidade e faces descoloridas de semi-polidez me enjooam A fome de vida atrofia-se mais e mais, uma imensa vala de desilusão e desprazer. Depois de descer o punhal é que pensa-se nas conseqüências. Quantos mais dardos eu errei? E quantas chances mais ainda me restam? Riscando essa lista imaginária a frente de meus olhos, vejo que a tinta é permanente, e que não há como voltar atrás e corrigir os erros terríveis e fatais que me assombrarão para sempre. Os artistas sofrem mais porque sentem mais, como já dizia uma condessa muito sábia. Sentir mais. O que é isso? O ódio astuto e indiferença austera que sinto por tudo? Sorte seria se fosse.
Não tem muito o que se fazer no mar do vácuo eterno de alma descolorida. Sentar e observar, voltar à alcova de desejos silenciosos e corpos esperando belo abate. Sentada no divã, na caixa de vidro, com o vinho na mão e esperando o próximo desafio que no final me fará mal como todos os outros.
Mas o mal habita em mim. Que vem aos arautos, o Coração de Inverno já terminou a primeira taça.

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