segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Epitáfio.

Eu escrevo a você, querido.
Chorei tanto, durante tantas noites e tantos dias que não seria capaz de distinguir os dois. Lamentei tanto. Passei horas com o gume de uma faca afiadíssima no meu pulso, pensando em cometer o ato e ir me juntar a você. Lembra daquela árvore em que nos abraçávamos e beijávamos apoiados à ela? Cortaram. A casinha que ficava em frente que sempre esteve para alugar foi alugada, e hoje uma velhinha fica sentada o dia inteiro na porta, movendo apenas os olhos. Parece até que cometemos um crime hediondo, meu amor, e estão tentando ocultar as provas. A praça em que conversávamos continua sendo o pátio daquela escola, com aquele drogado morador de rua que sempre nos passou medo. Quando passei lá, em frente a sorveteria que ficava na praça onde sempre comíamos quase um quilo de sorvete... Nada lá tem sabor mais. A praça parece desabitada. O vento não bate par ao mesmo lado. As árvores estão verdes por causa da estação, querido, mão não tem nada lá. Os bancos ainda têm musgo e terra, mas nada é o mesmo pra mim. As pessoas vem e vão, e nada lá muda. Você foi, e eu fiquei. Então por que ainda sinto essa dor aqui? Ah, meu amor... Me arrependo de não poder construir uma máquina do tempo. Seja pra voltar atrás e corrigir todos meus erros ou pra simplesmente poder passar com você todos aqueles momentos maravilhosos novamente. Mas eu não consigo. Eu nunca fui inteligente, nunca fui uma cientista. Eu queria segurar sua mão quente de novo, olhar nos seus olhos e ver todo aquele mundo que você ocultava, mas eles se fecharam para sempre para mim, não foi? Você não existe mais, querido, não existe. Você morreu. E eu fiquei. Você foi, como todos vão e me abandonam. Você não foi o primeiro que me deixou, mas tomara que tenha sido o último. Eu mereço um pouco de felicidade eterna, não mereço? Eu a vivi com você... Mas e agora? Eu não tenho nada!
Deixo uma rosa negra em cima do seu túmulo, arrumando o véu negro e limpando a última gota negra que sai dos meus olhos. Você morreu, querido. Não há motivo para continuar a chorar aqui, há? Seja nos braços de quem você esteja agora, não são os meus. Os olhos que fita, não são os meus. Os lábios que sela, não são os meus. O corpo que acolhe, não é o meu. As palavras que diz, não são pra mim. Você não é pra mim.
Você morreu. Em um túmulo hermético, onde, mesmo se quisesse, nunca sairia pra mim. Nunca.

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