sábado, 29 de outubro de 2011

How soon is now?


Eu sentaria em um banco de cimento em um jardim florido, com pássaros e colinas e te contaria meu tudo. Vomitaria o inferno aqui dentro. Te contaria como passei a escrever em segunda pessoa, minhas lágrimas acabaram e ando carregando peso demais nas costas. Uma tarde dessas, de primavera. Combinemos, pois. Procure pela silhueta de uma mulher curvada sobre um livro o qual devora como um leão se alimentando de uma gazela, presa no único lugar do mundo onde não sente dor. Seus olhos estarão roxos e os lábios perdendo o tom vermelho do batom por conta da mania de mordiscar o lábio inferior. O nariz estará entupido, a voz suavemente rouca, os dedos machucados pelos instrumentos, o braço alérgico, o cabelo bagunçado. Procure, em algum banco, e lá estará. Mas quando chegar perto não tema os olhos falsos e aquilinos que sempre te ocultarão a verdade. Converse comigo. A palavra é importante. Ainda mais àqueles que não a recebem. Conte-me devagar, conte-me tudo. Eu preciso saber dos outros infernos, assim como você vai querer saber dos meus. Beba um pouco do meu cantil, não é a morte, mas quase. Um 12 anos amarelado e amargo, quente. Então fecharei o livro e pontinhos de poeira subiram no ar, iluminados pelo sol que entra pelas faias das árvores. Por que um jardim? Por que é bonito, é fértil, traz alegria. Meu contrário. Se fosse em um castelo mal assombrado ou um beco escuro não teria graça. Eu não sou um morcego, sou? Não. Um monstrinho pior, mas um monstrinho.

Então você irá embora, como todos vão. E eu vou reabrir o livro, e cair em outro mundo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário