quarta-feira, 9 de maio de 2012

Woltatd, o ermo.

Eu poderia começar essa história falando que sou bonito, rico e solitário. Então você leria, depois que terminasse guardaria esse livro na estante ao lado dos outros romances e ficaria por isso mesmo. Sinto decepcioná-lo, mas essa não é uma história convencional. Eu não sei que diabos eu sou, um nada talvez. Um pervertido, um assassino, um… clichê. Mas eu não sou. Não cabo nessas medidas de seres humanos (ou não) normais. Eu não sou nada, meu velho. Eu sou o infinito, mas sou o nada. Não me leia, deixe-me aí, jogado na calçada onde é meu lugar. Vou escorrer até o esgoto, de onde eu nunca deveria ter saído.

Então?
— Então o quê?
— O que te traz aqui?
Fiquei um bom tempo olhando-a.
— A minha vida — e ri.
— Ora, o que há de engraçado?
— Fizeram essa mesma pergunta ao Hitler, sabe.
Então, ela estreitou os olhos, estralou os dedos e olhou-me por cima dos óculos com swarovski.
— Senhor Woltatd, isso já está ficando ridículo. Vamos recomeçar, sim? — Folheou o bloco de notas de papel orgânico e coçou a ponta do nariz com a caneta tinteiro. — Do que você gosta?
Eu achava muita graça naquilo tudo.
— Sexo selvagem, slivovtz e livros de poesia.
— Francamente. Acho que podemos marcar uma outra hora semana que vem, quando você estiver… são.
— Se eu fosse um homem são não estaria aqui, estaria?
A psicóloga de cabelos ruivos cacheados me olhou mais uma vez com aquela expressão de ‘eu-não-ganho-tudo-isso-para-ter-que-te-ouvir-falar-essa-merda’ enquanto aquele sorriso insuportavelmente irônico não se desfazia no meu rosto barbeado.

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