quarta-feira, 30 de maio de 2012

Idomeneo, ato II: Cena 3. Ária. Fuor Del Mar (Idomeneo)

Tem um Kundera me olhando torto aqui em cima da minha mesa, um café que esfriou na xícara de São Fransico de Assis e um Mozart soando baixo. Ah essa minha misantropia voltou, triste e molhada como um cachorrinho que ficou do lado de fora da casa por ter mordido a pantufa da dona, ou será que de mim ela nunca saiu? Com ela veio aquele eterno ódio silencioso e a manta fria da indiferença, voltaram a regar o meu jardim de heras venenosas e mortas que cultivo aqui no peito. A cortina de fumaça que me separava dos meus monstirnhos se dissipou, e agora eles adoravelmente vieram me abraçar com seus bracinhos cheios de espinhos. Pequeninos, sanguinários e feios, como a dona, afinal eu os pari e eles são minha imagem e semelhança criador x criatura. Mas o que é um escritor sem sua decadência?
― Venha aqui, Desilusão, tire a sua capa e divida esse Bourbon comigo. Temos muito a conversar.

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