segunda-feira, 11 de junho de 2012

Elegia aulida

Corta-me lenta, lâmina, para que neste minuto eu sinta-te ferindo a dor de minh'alma. Queima-me lento, fogo, para que neste minuto chamusque-me as fúrias. Pinta-me, negro, para que de toda cor eu possa esquecer-me. Componha-me, música, perfeita como tuas vibrações psicossomáticas que retumbam no meu lânguido íntimo. Rubrica-me, poesia, com tuas palavras de alento crescido. Tange-me, razão, com a necessária dor do saber. Inspira-me, decadência, como sempre fizera comigo como uma cigana enfeitiça o seu amado. Unja-me, morte, para que com teu beijo eu possa repousar quieta na plenitude do cosmo. Cinge-me, satisfação para que não sejas tu apenas um sopro de momento. Fímbra-me, tormenta, como drapeia as vestes dos artistas. Ame-me, amado oculto, e faça-me esquecer destas tristes companhias que me velam num cortejo fúnebre, possua-me e tome-me deste mundo nu de esperança. Faça meus olhos abrir. Faça meu peito mover-se. Faça minha alma limpa, só tu és capaz de clarear os labirintos, so tu és quem aninha-se nas altas matas densas da mais escura parte de mim. Só tu e tu. E então de mais nada precisarei. As partituras da minha vida estariam completas, e nossos corpos fariam a melodia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário