domingo, 10 de junho de 2012

Links, rechts, gradeaus Du bist im Labyrinth

Não havia nada de especial nela, nada em sua aparência normal, nada em seus atos comuns aos olhos das pessoas, nada. Ela era um nada. Sentava muito quieta quando ficava sozinha, cantarolava adágios de Mozart, rabiscava com o lápis até que ele ficasse sem ponta, realizando desenhos disformes, sanguinolentos, borrados, com lágrimas opacas. Deitava sempre no chão frio do quarto, nua e cansada, ouvindo música alto suficiente para poder calar os gritos de seu coração. Mas a alusão de felicidade durava pouco, pois de uma forma ou outra ela fazia parte do sofrimento da desmotivação e ele fazia parte dela. Os acordes das músicas encontravam na frequência descompassada de seu coração um abrigo rápido de cura múltipla e preenchimento, como a água enchendo um copo furado que vê-se completo apenas naquele momento e em seguida já desfaz-se o encanto da satisfação. Ela lacra a visão para si mesma, contemplando o infinito de sua alma instável. Dança sozinha nos salões do pálacio de ônix e mármore intransponível do interior do seu mais profundo eu numa viagem em que não conhece-se, mas foge-se, foge de si mesma, foge até de suas elevações psíquicas de razão, quer apenas valsar ali sozinha ao som das cítaras e dos pianos, do guturais e dos líricos, do desafinado e do harmônico, quer morrer ali deitada onde ninguém entra, onde a feiúra de seu ser é belo apenas em seus olhos. Deita nos tapetes ornados das promessas e suspira a poeira das mentiras, quebra os vasos antigos da sanidade irraigada e joga as tapeçarias ostensivas da auto estima na lareira de fogo azul. Ali dentro ela é mais loba que mulher, metade desafio metade incógnita, menos humana do que aparenta em seu avatar feio de mulher em formação. Então subitamente erguem-se duas gigantescas cortinas do palácio revelando o céu semi nublado, e ela estende-se redentora com os braços abertos e o peito a mostra, afinal aquele o único momento que abria os olhos da alma era para contemplar a lua.
E então uiva, só, para alguém em algum lugar ouça-a.


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