domingo, 26 de agosto de 2012

Não tinha nem pegadas

Te dei, você não quis.
― Leva que é seu.
Mas então se afastou, com os olhos estatelados e colado nos meus, passo ante passo, e eu de mãos estendidas.
― Toma. Segura aqui, por favor, antes que eu jogue fora.
Mas não tinha esperanças nos seus olhos. Nunca teve. O sangue pingava na neve, até que caí de joelhos e as feridas arderam no gelo.
― Pega aqui ― e esfreguei na barra de suas vestes, e então você apenas recuou. Segurou um momento, olhou-o e examinou de todos os lados sem um exame completo e depois jogou no chão de volta, ainda pulsando.
Desesperada em minhas próprias lágrimas, voltei a pegar o órgão gelado. E quando ergui os olhos sanguinolentos, você não estava mais lá. Só o pulso foi se perdendo, conforme voltei-o para o peito, para a cova.

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